nas tormentas, por acaso Luis

nas tormentas, por acaso Luis: (www.astormentas.com)
Poema ao acaso



1
Um vago tom de opala debelou
Prolixos funerais de luto de Astro
E pelo espaço, a Oiro se enfolou
O estandarte real livre, sem mastro.

Fantástica bandeira sem suporte,
Incerta, nevoenta, recamada
A desdobrar-se como a minha Sorte
Predita por ciganos numa estrada ...

2
Atapetemos a vida
Contra nós e contra o mundo.
— Desçamos panos de fundo
A cada hora vivida!

Desfiles, danças embora
Mal sejam uma ilusão...
Cenário de mutação
Pela minha vida fora!

Quero ser Eu plenamente:
Eu, o possesso do Pasmo.
Todo o meu entusiasmo,
Ah! que seja o meu Oriente!

O grande doido, o varrido,
O perdulário do Instante
O amante sem amante,
Ora amado, ora traído ...

Lançar os barcos ao Mar
De névoa, em rumo de incerto...
Pra mim o longe é mais perto
Do que o presente lugar.

...E as minhas unhas polidas
Idéia de olhos pintados...
Meus sentidos maquilados
A tintas conhecidas ...

Mistério duma incerteza
Que nunca se há de fixar...
Sonhador em frente ao mar
Duma olvidada riqueza ...

Num programa de teatro
Suceda-se a minha vida
Escada de Oiro descida
Aos pinotes, quatro a quatro! ...

3
Embora num funeral
Desfraldemos as bandeiras
Só as cores são verdadeiras
Siga sempre o festival!

Quermesse — eia! — e ruído!
Louça quebrada! Tropel!
Defronte do carrossel,
Eu, em ternura esquecido...

Fitas de cor, vozearia —
Os automóveis repletos:
Seus chauffeurs — os meus afetos
Com librés de fantasia!

Ser bom... Gostaria tanto
De o ser... Mas como? Afinal
Só se me fizesse mal
Eu fruiria esse encanto.

— Afetos?... Divagações...
Amigo dos meus amigos...
Amizades são castigos,
Não me embaraço em prisões!

Fiz deles os meus criados,
Com muita pena decerto.
Mas quero o Salão aberto,
E os meus braços repousados.

4
As grandes Horas! — vive-las
A preço mesmo dum crime!
Só a beleza redime —
Sacrifícios são novelas.

"Ganhar o pão do seu dia
Com o suor do seu rosto..."
— Mas não há maior desgosto
Nem há maior vilania!

E quem for Grande não venha
Dizer-me que passa fome.
Nada há que se não dome
Quando a Estrela for tamanha!

Nem receios nem temores,
Mesmo que sofra por nós
Quem nos faz bem. Esses dós
Impeçam os inferiores.

Os Grandes, partam — dominem
Sua sorte em suas mãos:
— Toldados, inúteis, vãos,
Que o seu Destino imaginem!

Nada nos pode deter;
O nosso caminho é de Astro!
Luto — embora! — o nosso rastro,
Se pra nós Oiro há de ser! ...

5
Vaga lenda facetada
A imprevisto e miragens —
Um grande livro de imagens,
Uma toalha bordada ...

Um baile russo a mil cores.
Um Domingo de Paris —
Cofre de Imperatriz
Roubado por malfeitores.

Antiga quinta deserta
Em que os donos faleceram —
Porta de cristal aberta
Sobre sonhos que esqueceram ...

Um lago à luz do luar
Com um barquinho de corda...
Saudade que não recorda —
Bola de tênis no ar...

Um leque que se rasgou —
Anel perdido no parque —
Lenço que acenou no embarque
De Aquela que não voltou ...

Praia de banhos do sul
Com meninos a brincar
Descalços à beira-mar,
Em tardes de céu azul...

Viagem circulatória
Num expresso de vagões-leitos —
Balão aceso — defeitos
De instalação provisória ...

Palace cosmopolita
De rastaquoères e cocottes —
Audaciosos decotes
Duma francesa bonita ...

Confusão de music-hall,
Aplausos e brou-u-ha —
Interminável sofá
Dum estofo profundo e mole. . .

Pinturas a "ripolin",
Anúncios pelos telhados —
O barulho dos teclados
Das Lynotype do Matin...

Manchete de sensação
Transmitida a todo o mundo —
Famoso artigo de fundo
Que acende uma revolução ...

Um sobrescrito lacrado
Que transviou no correio,
E nos chega sujo — cheio
De carimbos, lado a lado. . .

Nobre ponte citadina
De intranqüila capital —
A umidade outonal
De uma manhã de neblina ...

Uma bebida gelada —
Presentes todos os dias. . .
Champanha em taças esguias
Ou água ao sol entornada ...

Uma gaveta secreta
Com segredos de adultérios...
Porta falsa de mistérios —
Toda uma estante repleta:

Seja enfim a minha vida
Tarada de ócios e Lua:
Vida de Café e rua,
Dolorosa, suspendida —

Ah! mas de enlevo tão grande
Que outra nem sonho ou prevejo...
— A eterna mágoa dum beijo,
Essa mesma, ela me expande ...

6
Um frenesi hialino arrepiou
Pra sempre a minha carne e a minha vida.
Fui um barco de vela que parou
Em súbita baía adormecida ...

Baía embandeirada de miragem,
Dormente de ópio, de cristal e anil,
Na idéia de um país de gaze e Abril,
Em duvidosa e tremulante imagem ...

Parou ali a barca — e, ou fosse encanto,
Ou preguiça, ou delírio, ou esquecimento,
Não mais aparelhou... — ou fosse o vento
Propício que faltasse: ágil e santo ...

...Frente ao porto esboçara-se a cidade,
Descendo enlanguescida e preciosa:
As cúpulas de sombra cor-de-rosa,
As torres de platina e de saudade.

Avenidas de seda deslizando,
Praças de honra libertas sobre o mar
Jardins onde as flores fossem luar;
Lagos — carícias de âmbar flutuando ...

Os palácios de renda e escumalha.
De filigrana e cinza as catedrais —
Sobre a cidade a luz — esquiva poalha
Tingindo-se através longos vitrais ...

Vitrais de sonho a debruá-la em volta,
A isolá-la em lenda marchetada:
Uma Veneza de capricho — solta,
Instável, dúbia, pressentida, alada...

Exílio branco — a sua atmosfera,
Murmúrio de aplausos — seu brou-u-ha...
E na praça mais larga, em frágil cera,
Eu — a estátua "que nunca tombará"...

7
Meu alvoroço de oiro e lua
Tinha por fim que transbordar...
— Caiu-me a Alma ao meio da rua,
E não a Posso ir apanhar!


sexta-feira, 23 de julho de 2010

tosta mista, sem cafe nem vinho verde


Make a Wish

Publicada por tostamista



- Pede um desejo.
- Hã?


- Pede um desejo.
- pff... já pedi.


- Tens a certeza? É um desejo bom?
- Sim...


- Cima ou baixo?
- Baixo.


- Qual baixo? Este ou este?
- Este!


- Oh, ganhaste.
- Boa...
...

- Era um desejo importante?
- Opá, era. Muito importante.


- Oh, pediste para o Benfica ganhar o campeonato ou a taça ou lá o que é, não foi? Que desperdício. Vá, abre aí a gola.
...


Mas o que é que pediste? Diz lá...
- Não digo. Vá, deixa-me.


- Está bem mas, para se realizar, tinhas de dizer à pessoa que tinha a pestana... só para saberes. É pena.


em Sunday, July 18, 2010

http://zoomooz.blogspot.com/2010/07/make-wish.html


bemsalgado said...

Eu tambem pedi um desejo.

Á Virgem de Lourdes, pedindo mais do impossível.

Ela cumpriu. Tarde e sem preaviso, mas cumpriu.

Eu nâo.
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Á minha entranhavel desconhecida tostamista:


Moitas das minhas viagems a Portugal, durante muito tempo, rematavam comendo uma sande mista de queijo e presunto, em chegando a Valença, perto da fronteira con Tui.

Uma taça de vinho verde branco acompanhando, uma meia de leite, e por cima um “cimbalino”, que ao milhor voçé, de tâo ao sur, nâo sabe o que é, prolongabam Portugal dentro de mim por um anaquinho de tempo, antes de que os meus miolos se ocupasem em fazer con tudo isso o único que eles sabem fazer con tudo.

Por voçe descobri virtualmente, ante ontem, a tosta mista, e propusme, tambem virtualmente, que ela fosse quem sustituira aquela sande mista na prolongaçâo de Portugal em mim.

Têm que passar, sâo as regras, o fielato, antes de entrar na çidade em que eu vivo, como sempre foi mentras o mundo era todo um mundo, e as coisas nâo ían de aquí para lá de cualquer jeito.

Precisa como bem sabe, e se nâo sabe digolhe-lo eu, pagar um arbitrio municipal, que neste caso, por tratarse de mercancía do espaço cibernético, consiste em uma autorizaçâo pessoal sua, estampilhando o seu carimbo em baixo desta peça.

Tem para o fazer o praço que vocé quiser.

Boa noite, e nâo se me coma por dentro.

Vai um bocado.

http://o-fielato.blogspot.com


(as poças nas que me meto sâo bem salgadas)

1 comentário:

tostamista disse...

¡Qué honor! Estoy sin palavras...